Nascida em Joanesburgo, a modelo albina Thando Hopa tem feito sucesso no mundo fashion. Mas, ao contrário das suas colegas de profissão, ela não sonha somente com capas de grandes revistas e desfiles para grifes badaladas: Thando encara a visibilidade alcançada como missão.
"Larguei o direito por uma causa. E se é a moda que me faz conscientizar as pessoas sobre o albinismo, então vou abraçar essa profissão até o fim", diz ela, uma das estrelas da próxima edição do Calendário Pirelli, que, aos 25 anos, deixou a carreira de advogada para modelar.
Sofreu discriminação por se albina?
Muito. Principalmente na África do Sul, onde nasci. Na juventude, não saía de casa sem muita maquiagem para escurecer a pele. E, mesmo assim, me apontavam na rua, diziam que eu era filha do demônio e cuspiam quando passava. Lá o albinismo pressupõe debilitação física, um drama social. Os coleguinhas da escola não tocavam em mim.
Foi difícil vencer o preconceito?
Um dia acordei, me vi no espelho e decidi ser linda. Deu certo. Mas não vou descansar enquanto tiver a a certeza de que crianças não passem pelo que passei, principalmente em países como a Nigéria onde, segundo estatísticas, uma em cada cinco mil pessoas são albinas. Lá e também na Tanzânia, o infanticídio de bebês albinos é comum.
Crianças ainda sofrem dessa forma?
Sim, muito. As pessoas não fazem ideia. E isso precisa ser falado. Na Tanzânia, acredite se quiser, ainda hoje muita gente crê que partes de corpos de albinos tragam poder e sorte. Por lá, pessoas com albinismo são mortas e seus corpos usados em rituais supersticiosos e macabros. Na África não é diferente.
Como largou o direito para ser modelo?
Estava em Joanesburgo, na rua, e fui abordada por Gert-Johan Coetzee, um estilista muito conhecido lá. Ele se aproximou, disse que eu era muito bonita e perguntou se não gostaria de fazer umas fotos. Não levei a sério, mas peguei seu cartão. Dias depois liguei e marcamos um encontro. Desde então, tudo tem acontecidobem rápido. O mundo da moda é muito glamouroso, cada dia estou num país diferente. Mas luto a todo momento para não me deslumbrar e esquecer o motivo de eu estar aqui.