sábado, 9 de dezembro de 2017

ENTREVISTA: PAULO ROBERTO DE ALMEIDA PAULA, LÍDER DO RANKING BRASILEIRO DE MARATONA

ENTREVISTA: PAULO ROBERTO DE ALMEIDA PAULA, LÍDER DO RANKING BRASILEIRO DE MARATONA








divulgação/Skechers





Olá corredores! Eu tive o prazer de entrevistar o maratonista brasileiro, Paulo Roberto de Almeida Paula, atual líder do ranking brasileiro da modalidade. No domingo passado Paulo  obteve ótimo tempo na Maratona de Fukuoka, no Japão: fechou a prova em décimo oitavo lugar, com o excelente tempo de 2:13:37.

A maratona de Fukuoka é diferente de outras por aí. Nela só participam atletas de elite ou convidados. Ou seja, nada de amadores, o que eleva muito o nível da competição.

Paulo Roberto nasceu na cidade de Pacaembu, no interior de São Paulo, e tem 38 anos. Começou a correr na adolescência mas se especializou nos 42.195 metros em 2011.  Desde então obteve alguns resultados importantes: oitava posição na maratona dos Jogos Olímpicos de Londres e o sétimo lugar no Mundial de Atletismo de Moscou, em 2013. Seu melhor tempo é 2:10:23 na Maratona de Pádua, na Itália, em 2012.

Na entrevista a seguir ele conta como foi o ínicio no esporte, fala da relação com o irmão gêmeo e atual treinador, dá detalhes da sua rotina de treinamento e abre o coração para falar do passado e do futuro.



Como foi seu começo no atletismo?

Tive início na carreira do atletismo na cidade de Irapuru-SP, aos 16 anos. Como eu e meu irmão sempre fomos crianças agitadas e bagunceiras, um dia ouvimos barulho de fogos de artificio, fomos ver o que era e nos deparamos com uma corrida que se realizaria em comemoração do aniversário da cidade. Fomos chamados para entrar na prova de 15 km que era entre o município de Irapuru e Flora Rica, pela rodovia Julio Budiski. Acabamos por vencer a prova. Corremos descalços. Isso nos custou 1 semana sem ir para a escola devido os machucados feitos nos pés.

A partir disso começamos a participar das corridas na região e começamos a vencer todas, com incentivo de um amigo de família, Readir Tovani (Preto) que foi a pessoa que passou a nos chamar todos os dias para treinar.

Minha primeira experiência em uma competição de alto nível foi os Jogos Regionais de Lins-SP, após 1 ano, em que conquistei muitas vitórias ao lado de meu irmão Luis Fernando. Após recebermos elogios por nosso potencial fomos para Americana-SP e nos filiamos ao Rio Branco, nosso primeiro clube. Na época chagamos a fazer um teste na melhor equipe de atletismo que existia no Brasil e que era o sonho de qualquer atleta por dar todo respaldo necessário para seguir a carreira, o Funilense, mas não passamos no teste. Após isso em uma competição conhecemos o técnico Marcos Antônio de Oliveira, na época treinador de vários atletas olímpicos, que nos deu a oportunidade e pagou todas as nossas despesas para que pudéssemos ir até Campos do Jordão para fazermos um trabalho juntamente com o grupo dele que participaria da São Silvestre. Nesses treinamentos nos destacamos e por isso ele nos colocou em uma seletiva para um Cross Country onde fomos campeões com pouco menos de 1 mês de treinamento, onde chegamos de mãos dadas com uma distância de vantagem de 150 metros.



Me fale da relação com o seu irmão, que hoje é seu treinador.

Eu e meu irmão iniciamos juntos o atletismo e até 2015 ainda participávamos juntos em algumas corridas de 10 km e meia maratona. Desde 2011, quando iniciei na maratona, ele já havia perdido o interesse por competir. Mesmo assim, ainda continuou me auxiliando nos treinamentos. Depois que me desliguei de meu ex-técnico, Marcos Antônio, meu irmão passou a ser oficialmente o meu técnico.

Hoje, além de técnico, ele cuida da parte de patrocínios, da escolha de provas, e sem contar o fato de sermos muito ligados por sermos irmãos gêmeos, ele também me ajuda na parte psicológica.



Como foi a transição das provas mais rápidas para a maratona?

Um dos fatores principais para sair das provas mais rápidas para a maratona foi a idade. No início da carreira fiz uma avaliação médica que constatou que minhas fibras musculares eram mais resistentes que o comum, e que com isso meu desempenho em provas longas seria bom.  Ao completar 32 anos, resolvi partir para a maratona e quando disse ao meu ex-técnico ele chegou a dar risada, pois nunca fui muito fã de treinos longos. Mas eu estava focado e disse a ele para passar os treinos que o restante eu faria.  Aí já na minha primeira maratona, em Amsterdã, em 2011, fiz o meu primeiro índice para os jogos olímpicos de Londres 2012, com um tempo de 2:13:33. Depois, em 2012, fiz mais duas maratonas. Barcelona em 2:11:51. Após 30 dias, corri em Pádova e fiz o tempo de  2:10:23, que é meu recorde pessoal. Depois disso nunca mais parei de correr, pois descobri que a maratona é a minha prova. Hoje, aos 38 anos, ainda estou na ativa e me sentindo muito bem.










divulgação/Skechers





Quando você pretende se aposentar? Como trabalha isso na sua cabeça?

Bem, falar em aposentar é bem complicado uma vez que eu faço o que amo e faço de melhor. Minha ideia é me aposentar de competições de nível mundial como, Olimpíadas, Campeonatos mundiais, mas não das maratonas pois ainda me sinto muito bem correndo. Não vou parar enquanto meu corpo ainda estiver respondendo.Então, até que ele me avise que quer parar, continuarei minha jornada.



Como foi correr sua primeira maratona? Sério que você precisou parar para urinar? 

A primeira maratona que corri foi em Amsterdã, e por falta de experiência e nervosismo por estar numa prova tão longa, tive que parar duas vezes para urinar, mas quando voltava já voltava no gás para recuperar o tempo perdido e me reaproximar do grupo em que estava. Apesar disso, obtive um ótimo resultado por ser minha primeira maratona.



Gostaria de saber como é sua rotina diária de treinamento.Minha rotina de treinamentos é tranquila. Basicamente, consiste em dois períodos de treinos diários de 10 km durante a semana, com o início de treinos fortes nas sextas-feiras, quando faço um semi-longo, que varia de 20 a 28 km. No sábado, faço somente um treino de 10 km, e no domingo o treino longo, que varia de 26 a 30 km. Na primeira semana de treinamentos faço 120 km, na segunda 125 km, na terceira 130 km, na quarta semana 140 km, quinta semana de 150 a 160 km. Faltando 2 semanas para a maratona 100 km e 60 km.



Me fale da importância de marcas esportivas que apoiam atletas como você?

É muito importante o apoio que recebo da Skechers, pois ela me dá toda estrutura, me fornecendo os melhores materiais, garantindo assim meu bom desempenho, e é hoje minha única fonte de renda fixa, que proporciona minhas participações nas provas pelo mundo.

Como você avalia o momento do atletismo brasileiro? Na sua opinião, houve algum legado positivo da Olimpíada do Rio?

O atletismo do Brasil está falido. Não por falta de bons atletas, mas por falta de incentivo e investimento, porque, como tudo no Brasil, o atletismo vem sendo roubado por seus dirigentes, deixando o sonho de muitos morrer.

Para mim a Olímpiada do Rio não trouxe legado algum. Sempre fui contra, pois sabia que seria fonte de enriquecimento ilícito de alguns e não traria benefício ao esporte brasileiro.



Quais são suas metas para 2018?

Manter uma boa temporada na Europa onde tenho circuito de Meia Maratona na República Tcheca e Portugal. Meu objetivo é fazer parte da delegação que irá aos Jogos Olímpicos de Tokyo 2020 e manter-me em boas condições físicas para chegar em 2020 na melhor forma possível e competir de igual para igual com meus adversários.



Quantas e quais provas pretende disputar ano que vem?

No máximo 2 Maratonas, uma no 1º no semestre e outra no 2º semestre. Entre a preparação para estas maratonas, 6 meias, 3 no 1º e 3 no 2º semestre. Pretendo também participar de 1 ou 2 provas de 10 km para ganhar velocidade, já que resistência já possuo.



Tem alguma dica para atletas que estão começando na corrida?

Primeiramente mantenha seus pés no chão, nunca deixe de treinar, mesmo quando você não conseguir ver resultados a curto prazo. Não desista, a competição em alto nível é muito difícil e acirrada. Se alguém quiser chegar lá tem que fazer muito mais do que seu melhor e respeitar os três pilares do sucesso: talento, muito treino e humildade. Só assim conseguirá conquistar o sucesso.



Algo que você não faria se pudesse começar novamente?

Creio que todo ser humano quando olha para trás enxerga coisas no seu passado que não gostaria de ter feito. A verdade maior é que essas coisas contribuíram e contribuem para nos tornarmos quem somos hoje. A vida é feita de processos e os erros e acertos são maravilhosas oportunidades que temos de crescermos e forjarmos nosso caráter sempre para a melhor. Assim como acontece com todos, aprendo todos os dias e hoje sou uma pessoa mais madura e um atleta mais preparado.

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