sábado, 18 de novembro de 2017

Quem nunca gastou e achou que estava economizando?

Quem nunca gastou e achou que estava economizando?

Imagine a cena: você está andando no shopping, quando vê uma geladeira na vitrine de uma loja de eletrodomésticos com um grande desconto. Pensa na sua velha geladeira, que está com você há quase uma década, e olha para o aparelho novo. De R$ 2.500, ele está agora custando R$ 1.500. Parece a oportunidade perfeita para trocar de geladeira. Como você encara esta compra: como um gasto de R$ 1.500, ou como uma economia de R$ 1.000?


Se este exemplo acima caísse em uma prova de economia, a resposta óbvia é de que se trata de uma despesa. No entanto, para a maioria dos humanos, a lógica é outra. Você pensa: “terei que trocar em breve de geladeira de qualquer forma, e com este desconto, consigo economizar R$ 1.000 nesta compra”. Que atire a primeira pedra a pessoa que nunca fez uma compra e achou que estava, na realidade, poupando dinheiro.



O vencedor do Prêmio Nobel de Economia deste ano, Richard Thaler, expôs o problema em seu livro “Comportamento Inadequado”: “Suponha que você comprou uma caixa de um bom vinho por US$ 20 a garrafa no mercado futuro. O vinho está sendo vendido agora nos leilões por cerca de US$ 75. Você decide beber uma garrafa. Qual das seguintes frases capta melhor a sua impressão do que lhe custa beber a garrafa?



1) US$ 0. Já a paguei


2) US$ 20. O que eu paguei por ela


3) US$ 20 mais juros


4) US$ 75. O que me dariam por ela se a vendesse


5) -US$ 55. Consigo beber uma garrafa que vale US$ 75 pela qual só paguei US$ 20. Portanto, poupo dinheiro ao beber esta garrafa



Quando Thaler realizou a pesquisa acima em colaboração com o psicólogo de Princeton Eldar Shafir, eles não acreditavam que alguém em sã consciência optaria pela alternativa 5 (-US$ 55). No entanto, qual foi a surpresa deles ao verificar em 25% dos respondentes da pesquisa (colecionadores de vinho) havia selecionado aquela opção. A única resposta mais popular do que a 5 foi a 1 (US$ 0), com 30% das respostas. A opção correta de acordo com a teoria econômica, a 4, foi citada apenas em 20% das respostas.



Após esta pesquisa, Thaler e Shafir decidiram fazer uma nova rodada com o mesmo público, agora para entender o que os colecionadores de vinho achavam quando compravam uma garrafa de vinho. “A resposta mais popular revela que ao comprar um vinho para guardar por 10 anos antes de o beber, as pessoas pensam nessa despesa como um investimento. A segunda escolha foi a de que estavam a poupar dinheiro. Chamar-lhe um gasto ficou claramente em segundo lugar”. O estudo foi publicado com um título bem-humorado: “Invista agora, beba depois, não gaste nunca”.



O economista chama a atenção para o fato de que conseguimos racionalizar o nosso processo de tomada de decisão, encarando alguns gastos como investimentos, e não despesas. Este caso cai dentro do que chama de contabilidade mental – formas de pensar sobre dinheiro que podem acabar sendo enganosas.



É como a ideia de passar as férias em um daqueles resorts “all inclusive”. O preço já está fechado e não haverá nenhuma surpresa desagradável na hora do checkout. Na hora de curtir as férias, fica a sensação de que a comida e a bebida são de graça. Na realidade, como todo economista clássico sabe, não existe almoço grátis – o valor dos comes e bebes já está todo embutido dentro da tarifa. No entanto, ao pedir uma caipirinha da piscina, não tem chance: você curte o drink como se fosse de graça.



Post em colaboração com a jornalista Carolina Sandler