Em meio a rumores sobre sua deposição, o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, fez uma aparição pública nesta sexta (17), na cerimônia de graduação de uma universidade. Relatos divulgados por agências de notícias e pela BBC afirmam que Mugabe foi aplaudido ao discursar para os formandos.
Na última quarta, um dia após colocar soldados e tanques nas ruas da capital, Harare, e fechar prédios públicos, uma junta militar insurgente disse estar mantendo Mugabe e sua mulher, Grace, em confinamento na residência oficial, "sãos e salvos".
Em pronunciamento na TV, os militares negaram se tratar de um golpe de Estado. A ação, segundo o comunicado, seria contra assessores "corruptos" do presidente.
Na quinta, um jornal estatal já havia publicado fotos do presidente em reunião com interlocutores estrangeiros, ministros e militares, inclusive o general que estaria por trás da insurgência em Harare, Constantino Chiwenga. O encontro teria acontecido na State House, indicando o fim do confinamento do chefe de Estado.
Segundo fontes da agência Reuters e do jornal "Times" da África do Sul, Mugabe insiste em permanecer como o único líder legítimo do país e rejeita inclusive a mediação de intermediários da Igreja. "Os militares insistem que o presidente tem que pôr fim ao seu mandato", indicaram as fontes citadas pelo jornal. "É uma espécie de ponto morto, um beco sem saída", acrescentaram.
Disputa sucessória
Mugabe, 93, ainda visto por muitos africanos como um herói da libertação, é repudiado no Ocidente, que o vê como um déspota cujas desastrosas medidas econômicas e disposição para recorrer à violência para se manter no poder destruíram um dos Estados mais promissores da África.
No poder desde 1980, o professor e ex-guerrilheiro foi o único líder do Zimbábue desde que se tornou independente.
A crise política no Zimbábue começou na semana anterior, com a deposição do ex-vice de Mugabe, Emmerson Mnangagwa, um herói da independência e próximo dos militares. Analistas apontam que, com o afastamento, Mugabe teria aberto o caminho para fazer a primeira-dama, Grace, sua sucessora, com o apoio da ala mais jovem do partido.
O afastamento de Mnangagwa, no entanto, teria desagradado aos generais e funcionado como o estopim da insurgência.