quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Liga da Justiça não decepciona, mas tampouco empolga

Liga da Justiça não decepciona, mas tampouco empolga

Nos últimos anos, surgiu uma máxima entre os fãs do universo cinematográfico da gigante dos quadrinhos DC: não crie expectativas. Após grandes decepções com Batman vs. Superman e Esquadrão Suicida, quem se dirigir aos cinemas para assistir à Liga da Justiça, que estreia nesta quinta-feira (16), deverá fazê-lo cautelosamente. Com razão.


Mulher Maravilha, Batman e Flash em cena de Liga da Justiça. É perceptível a tentativa de dar mais importante à personagem feminina (Foto: Everett Collection/Agb Photo)

O filme é uma colcha de retalhos pessoais e  corporativos. O diretor Zack Snyder (que esteve à frente de Batman vs. Superman e outros títulos envolvendo o herói de aço) deixou o projeto após uma tragédia familiar. Joss Whedon entrou em cena para completar o filme. Costurou as gravações de Snyder com filmagens extras que ambicionaram dar, ao mesmo tempo, mais densidade aos personagens e um toque de comédia – essa prática vem se repetindo nos novos filmes de super-herói da DC, porque, aparentemente, eles não conseguem acertar o tom de primeira. Cerca de 20% das cenas foram refilmadas.


A Warner, por sua vez,  percebeu que o esquema megalomaníaco de Snyder de transplantar o vasto universo da DC para o cinema – numa tentativa atropelada de recuperar o atraso da franquia em comparação a quase uma década de produção da rival Marvel – não está sendo aprovado nem pelos críticos nem pelos fãs. O último (ou primeiro?) êxito da DC nos últimos anos foi Mulher Maravilha. Dirigido por Patty Jenkins, o filme se destacou por sua narrativa e pelo tom mais leve e humano. O sucesso retumbante de Mulher Maravilha  aumentou a pressão sobre a produção de Liga da Justiça  - e a inclusão de várias cenas da amazona Diana Prince é claramente uma tentativa de surfar na onda  no filme protagonizado pela atriz israelense Gal Gadot. Com tantas revira voltas em sua fase de produção, Liga da Justiça parece, no entanto, muitas vezes, um pequeno Frenkenstein.


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A trama começa no ponto onde Batman v. Superman parou em 2016. O Super-Homem (Henry Cavill) está morto e o planeta está indefeso  para se proteger tanto de ameaças externas quanto internas. A população parece ter perdido a esperança. O homem morcego (interpretado, sem qualquer vitalidade, por Ben Affleck) está preocupado com um possível invasor alienígena que ele não tem condições de enfrentar  sozinho. Com a ajuda de uma base de dados roubada de Lex Luthor, ele tenta reunir um grupo de super heróis para a causa. Um deles é a Mulher Maravilha, a amazona Diana Prince, qjue já havia sido recrutada para a missão em seu próprio filme, lançado no início deste ano.


Batman também vai atrás de Barry Allen (o Flash, interpretado por Ezra Miller), em uma sequência que alude ao encontro engraçadinho de Tony Stark e Peter Parker em Capitão América: Guerra Civil. Batman também rastreia Arthur Curry (o Aquaman, interpretado por Jason Mamoa) em uma cidadezinha do norte europeu. O último super-herói da lista é Victor Stone (o Ciborgue, interpretado por Ray Fisher). Cada um tem sua própria razão para não querer participar da missão logo de cara, mas, naturalmente, a ameaça de um  apocalipse tornará impensável recusar a oferta.


O apocalipse fará mais sentido para os fãs da DC  familiariizados com o vilão dos quadrinhos, Darkseid. Espectadores menos aficionados provavelmente não enxergarão diferença entre este e  outros vilões megalomaníacos, de voz grossa e força descomunal que preencheram as telas de todos os últimos filmes de super-herói. O roteiro segue a fórmula de como cada herói , aos poucos, se convence sobre seu papel  na luta para evitar a catástrofe mundial - e  como é preciso abandonar suas crenças e problemas pessoais para trabalhar em grupo. A trama também tem um quê de videogame. O vilão, em sua jornada para destruir o mundo, tem de coletar objetos poderosos em diferentes locais. A missão se torna mais complicada porque ele tem de vencer  batalhas cada vez mais difíceis a cada etapa.


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Entre algumas piadas com bom timing e cenas de luta nem sempre bem coreografadas, a Liga da Justiça repisa a velha mensagem de que "somos melhores unidos" e acaba por não empolgar. A história, criada nos anos 1960, fez muito sucesso nos quadrinhos e também na televisão. O filme, porém, segue numa velocidade alta demais para a quantidade de tramas que quer contar. Na sua pressa de se igualar à Marvel, a DC parece ter se esquecido de que talvez seja melhor apresentar cada personagem em filmes separados, com calma e profundidade, e só depois juntá-los. 


Ao longo do filme, fica óbvia a tentativa de tornar a Mulher Maravilha mais relevante no enredo do que originalmente havia sido pensado.  Diana Prince segue cativante, habilidosa e inteligente. Porém, o incremento da participação da super-heroina vem acompanhada de closes desnecessários no derrière de Gal Gadot. Há ao menos três ocasiões em que isso se repete. É o tipo de cena gratuita que não aparece no filme solo dirigido por Patty.  Para o público feminino, este foi um dos pontos fundamentais para o sucesso de Mulher Maravilha  como um dos melhores e mais bem sucedidos filmes de super-heróis.


É claro que Liga da Justiça levará muitos fãs da  saga dos super-heróis aos cinemas. Mas a DC parece não aprender com seus erros. A sequencia de um filme bom para cada três filmes ruins não  garantirá a sobrevivência da franquia. 


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