Jorge Almirón levou modesto Lanús à disputa pelo título da América
Marcos Brindicci/Reuters - 31.10.2017
O Lanús nunca foi um gigante do futebol argentino, longe disso. A equipe, que conquistou no ano passado seu segundo título argentino e hoje disputa uma inédita final de Libertadores, é obra de Jorge Almirón, o treinador exaltado pelo flamenguista Mancuello, inspirado em Guardiola e que está a um passo de escrever o capítulo mais bonito da história de seu clube.
O Lanús desta temporada lembra o Grêmio: é um time que não se agarra a craques, pois se destaca pelo coletivo. O sucesso do trabalho de Almirón depende da dedicação e da vontade dos atletas de aprender. O time ‘granate’ é o que mais troca passes na Libertadores, com uma média de 407,5 toques certos por jogo.
Apesar do impacto proporcionado pela campanha de destaque, essa equipe do Lanús mantém a identidade humilde. Jorge Almirón declarou que seu time não usa drones, em referência ao adversário da final, o Grêmio, que espionou treinamentos de rivais durante o ano de 2017.
- Nós não temos drones, portanto, não podemos usá-los para espionar nada – disse o treinador granate, em entrevista à agência de notícias Télam.
A qualidade de Almirón é reconhecida por seus comandados. Román Martínez, meio-campista de 34 anos do Lanús, exaltou o técnico e seu trabalho no time da província de Buenos Aires
- Só tenho palavras de agradecimento, porque é o melhor treinador que eu tive - declarou Martínez, camisa 10 do Lanús, em entrevista à ESPN argentina.
Jorge Almirón é um admirador do trabalho de Pep Guardiola, treinador do Manchester City que fez sucesso com Barcelona e Bayern de Munique.
O espanhol foi escolhido para substituir Jupp Heynckes no Bayern, logo após a conquista da tríplice coroa pelo clube bávaro. O desafio de Guardiola foi implementar um novo sistema de jogo e fazer com que jogadores vencedores o praticassem.
Inspiração em Guardiola é um dos fortes de Almirón
Diego Vara/Reuters - 23.11.2017
- Campeões consagrados, ganhadores de tudo, aceitaram com humildade aprender outra maneira de praticar seu esporte. Aceitaram de bom grado – escreve Martí Perarnau, em Pep Guardiola: A Evolução, publicado no Brasil pela editora Grande Área - Por sua vez, o treinador aprendeu muitíssimo. Não por acaso, para qualquer professor, a melhor forma de aprender é ensinando.
O processo vivido pelo consagrado treinador em Munique foi semelhante ao que Almirón tentou aplicar no modesto Lanús. O argentino revelou como conseguiu acrescentar inovações ao time granate e começar, assim, a aplicar a filosofia atual dos finalistas da Libertadores.
- Encontrei recepção porque os jogadores assistem futebol e viam certas coisas do Independiente (seu ex-clube) que também gostavam - declarou Almirón, em entrevista ao jornal La Nación.
O técnico do Lanús não esconde sua inspiração no trabalho de Guardiola. Na mesma entrevista ao La Nación, exaltou-o.
- O Barcelona de Pep revolucionou o futebol. Guardiola o fez também no Bayern de Munique e agora está fazendo no Manchester City: em um mês, alterou a fisionomia do jogo – disse o comandante.
Assim como o “ídolo”, o treinador granate gosta de usar o goleiro para sair jogando. Fernando Monetti é o dono das luvas e também dos passes que iniciam a construção de jogadas, sempre bem trabalhadas, do finalista da Libertadores 2017.
A carreira de Jorge Almirón como jogador começou na quarta divisão argentina, no San Miguel, em 1991. Em seguida, passou pelo Santiago Wanderers, do Chile e voltou para terras Hermanas, para atuar pelo Deportivo Español na Primeira Divisão.
Ricardo La Volpe, então técnico do Atlas, o levou para a equipe mexicana. No país norte-americano, Almirón vestiu as camisas de seis clubes. Ele se aposentou no Dorados de Sinaloa, onde largou as chuteiras e assumiu o comando técnico.
Já na função de treinador, passou por Veracruz, Correcaminos, Atlas, Defensa y Justicia, Tijuana, Godoy Cruz e Independiente, até chegar ao Lanús, em 2016.
A relação de Almirón com times brasileiros, porém, não começou com a decisão da Libertadores. Em 2013, um lance heroico do goleiro Victor, do Atlético Mineiro, afetou diretamente a vida do treinador.
No dia 30 de maio daquele ano, Atlético Mineiro e Tijuana decidiam uma vaga entre os quatro finalistas do torneio continental, no Independência. No último minuto do jogo, o goleiro Victor defendeu milagrosamente um pênalti cobrado por Riascos e salvou o Galo da eliminação. Quem caiu fora foram os mexicanos, que, no dia 31, anunciaram Jorge Almirón como novo técnico.
Quando o Lanús executou uma improvável virada para cima do River Plate e passou para a final da Libertadores, muitos ficaram impressionados com a capacidade de reação da equipe de Almirón.
O time granate perdia por 2 a 0 em casa no intervalo, depois de ter sido derrotado por 1 a 0 no jogo de ida. No segundo tempo, marcou quatro gols e despachou o gigante River, favorito no confronto.
O meio-campista do Flamengo Federico Mancuello, entretanto, não se surpreendeu. O jogador comemorou o resultado em sua página no Twitter. Ele não tem nenhuma relação com o Lanús. O motivo de sua felicidade tinha nome e sobrenome: Jorge Almirón.
A fase do Flamengo não é das melhores. Ao verem o argentino comemorando a classificação de outra equipe para a final da competição da qual o Rubro-Negro foi eliminado ainda na primeira fase, muitos torcedores se revoltaram.
Almirón e seus comandados celebraram muito vaga na final da Libertadores
Diego Vara/Reuters - 31.10.2017
Esta é a primeira final de Libertadores de Jorge Almirón. Ele compartilha essa experiência inédita com o clube, também estreante nesse tipo de partida, e com os jogadores que se orgulha de ter em seu elenco.
Se o time granate sairá de La Fortaleza campeão, só os 90 minutos de bola rolando dirão. Mas se depender da vontade e do trabalho, a equipe de Jorge Almirón é forte candidata a levantar o troféu. Como o próprio treinador disse, o objetivo de todos na província de Lanús é um só:
- É uma final e as finais se ganham.
*Sob supervisão de Paulo Amaral
