A imagem original de São José na Pedra do Guindaste, na frente da cidade de Macapá, vai permanecer aonde está. A decisão foi divulgada pela Associação Comercial e Industrial do Amapá (Acia) na quinta-feira (16) após repercussão negativa do anúncio feito sobre a troca da estátua do santo por outra maior.
A Acia, com apoio do governo do estado, tinham o projeto de substituir a imagem antiga por outra de 3 metros de altura, que foi confeccionada pelo artista plástico maranhense Lindomar Plácido da Costa.
A ideia incluía também a construção de uma extensão do trapiche Eliezer Levy até a imagem, para que a população pudesse contemplar de perto a obra, além do reposicionamento da estátua que ficaria de frente para a cidade. A antiga seria restaurada para ser colocada na entrada da Fortaleza São José.
Cedendo aos movimentos contra o projeto, o presidente da Acia, Altair Pereira, informou o cancelamento da iniciativa.
“Nossa ideia era revigorar aquele ponto na orla da cidade, cujo memorial está apresentando problemas. Queríamos pôr o São José como ele é caracterizado, com o menino Jesus no colo, lírio de ramos na mão. Já estávamos num entendimento com o Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional] para que isso acontecesse", comentou Pereira.
O empresário lamentou o ocorrido e lembrou que o objetivo era dar um novo sentido ao ponto turístico.
“Grandes monumentos, até internacionais, sofrem alterações para acompanhar o tempo, o que fica registrado é o memorial. Em São Paulo, a Catedral da Sé teve uma evolução; a catedral de Notre Dame também, e a própria Estátua da Liberdade sofreu alterações. Não queríamos gerar polêmica”, pontuou.
Os primeiros a se manifestarem contra o projeto foram os familiares do artesão Antonio Pereira da Costa, que esculpiu a estátua que está na orla há mais de 70 anos. A neta dele, Lídia Elaine da Costa, iniciou uma campanha nas redes sociais, onde pedia respeito à memória da cidade e ao trabalho do avô.
“A minha família quer a garantia de que a imagem não será trocada e vamos buscar meios para que isso aconteça e fazer com que a estrutura seja resguardada, através de tombamento”, garantiu Lídia
O movimento contra a proposta teve adesão também de professores e estudantes de arquitetura da Universidade Federal do Amapá (Unifap), que criaram um abaixo-assinado para frear a substituição.
“Depois de discutirmos a situação em sala de aula, a reação dos alunos foi de revolta, que aquilo não poderia sair do local, pois existe uma relação afetiva e há uma identidade cultural com a cidade. Por isso decidimos fazer o abaixo-assinado”, explicou a professora Dinah Tutyia.
Até a quinta-feira o documento tinha mais de 300 assinaturas. O próximo passo, segundo a professora, é mobilizar a sociedade para pedir a abertura do tombamento da imagem nas esferas estadual, municipal e federal.
Grupos de pesquisa, como o “Memórias Urbanas”, do qual a pesquisadora Eliza Smith faz parte, também aderiram à causa e não aceitam a mudança.
“Não se pode chegar e fazer o que bem entender. Temos dezenas de patrimônios que foram perdidos justamente por terem sido modificados, derrubados e até trocados por outros. Macapá tem pouca memória”, ressaltou Smith.
A estátua nova ficará pronta na terça-feira (21), de acordo com Altair Pereira. Com o cancelamento, ela será doada para a Diocese, como estava planejado, para que a igreja decida o destino final da imagem.
A Diocese de Macapá não quis se pronunciar a respeito da polêmica.
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