sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

'Agarrei atletismo com duas mãos, mesmo tendo só uma', diz Petrúcio

'Agarrei atletismo com duas mãos, mesmo tendo só uma', diz Petrúcio




Petrúcio propõe desafio para quem acha que é fácil correr sem uma das mãos


Petrúcio propõe desafio para quem acha que é fácil correr sem uma das mãos
Alexandre Loureiro/Getty Images - 11.9.2016







Da brincadeira de apostar corrida ao alto do pódio dos Jogos Paralímpicos e do Mundial. Medalha de ouro no peito, recordes nos 100 e 200 metros da classe T46/47, mas principalmente a chance de mudar a história da família no sertão paraibano. O atletismo foi uma chance que Petrúcio Ferreira agarrou com as duas mãos, “mesmo só tendo uma”, como ele próprio faz piada com o acidente que teve ainda criança.



O menino arteiro de São José do Brejo do Cruz, a 400 km da capital João Pessoa, já havia vencido a infância humilde na roça para triunfar no futsal. Os dribles e gols de uma carreira promissora só não chamaram mais a atenção dos técnicos Ricardo Ambrósio e Pedro Almeida que a velocidade natural do garoto então de 13 anos. A formação tardia para o atletismo faz ainda hoje uma das estrelas do esporte brasileiro acreditar que basta sair correndo para chegar na frente dos adversários.









A primeira competição foi ainda em ambiente escolar, em Catolé do Rocha, também na Paraíba. De lá foi convidado para disputar um torneio na capital, depois para a seleção brasileira, para o Para-Pan... Paralimpíadas, Mundial e hoje lá se vão três medalhas na Rio 2016 e duas em Londres 2017. Mais do que isso, uma oportunidade para esquecer o futebol e se dedicar totalmente ao atletismo.



“Sei que foi através do atletismo que pude dar condições melhores para os meus pais. Hoje, se entro na pista é porque tenho alegria e amor naquilo que eu faço que é brincar de apostar corrida”, disse Petrúcio, em entrevista no Pinheiros, clube dez vezes mais associados que os 1.780 habitantes da sua cidade-natal.










Mesmo com tanta superação, até hoje os mais críticos teimam em dizer que é “só uma mão que falta”. Segundo a lógica desses, a ausência de um membro em nada afetaria o equilíbrio, por exemplo, isso para ficar somente nos aspectos da corrida, descontadas as dificuldades mais naturais do dia-a-dia. Até para o absurdo, o rapaz de 21 anos de uma resposta.



“Algumas pessoas chegam a falar: ‘você tem as pernas normais, só falta uma mão’. Mas não é simples assim. Às vezes nem respondo e proponho o desafio: ‘amarra uma das mãos e tenta correr’. Você vai ver a dificuldade que você vai ter e talvez até caia”, explicou Petrúcio.








Petrúcio sonha em correr 100m próximo dos 10s


Petrúcio sonha em correr 100m próximo dos 10s
Bruna Prado/Getty Images - 1.10.2017







Perto dos olímpicos

Os tempos de Petrúcio são tão assombrosos para as Paralimpíadas que, vira e mexe, sempre são comparados com as marcas obtidas nas Olimpíadas. O 10s53 nos 100m, seguido pelos 21s21 nos 200m o dariam as medalhas de ouro na prova feminina da Rio 2016. A jamaicana Elaine Thompson é campeã (10s71 e 21s78) das duas provas. Entre os homens, as marcas são mais bem divididas entre inúmeros atletas. Petrúcio ainda estaria longe, por exemplo, de alcançar o lendário Usain Bolt (9s58 e 19s19).



Bem por isso, o objetivo talvez não seja exatamente seguir os passos de outros atletas paraolímpicos e competir com os olímpicos, mas chegar perto deles. A intensão é primordialmente correr mais próximo da casa dos 10 segundos. Ainda assim, o próprio velocista faz questão de deixar claro que está aberto a quaisquer possibilidades. Para isso, sabe que ainda pode melhorar na largada (hoje com auxílio de um apoio prolongador) e melhorar justamente o equilíbrio.



“Baixar de 10s, chegar na casa dos 9s, é um pouco complicado. A gente fala em segundos, mas para tirar segundos em uma prova de 100m é muito difícil”, revelou o atleta. “Já cheguei a comparar alguns resultados, sim. É legal para mostrar que não é por causa de uma deficiência que você está impossibilitado de conseguir alguma coisa. Estou conseguindo mostrar que, mesmo com a deficiência, posso chegar a correr como alguns atletas convencionais. Impossibilita de fazer algumas coisas, mas permite que você mostre que é preciso acreditar.”



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