Autoridades de Nevada, nos Estados Unidos, pretendem testar uma combinação de drogas inéditas na primeira execução de uma pena de morte em mais de uma década no Estado.
O coquetel inclui um poderoso analgésico, um dos responsáveis pela epidemia de vício em opioides vivida nos EUA e uma droga paralisante que pode mascarar indícios de mal funcionamento, segundo a agência Associated Press.
Se a Suprema Corte de Nevada autorizar, a injeção letal será testada em Scott Raymond Dozier, 46, condenado duas vezes por homicídio.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2017/V/F/6YNuDDRvKvf8vnkT7NoQ/nevada-execution-chal-fran.jpg)
Scott Dozier comparece a audiência em Las Vegas, em agosto de 2017, ao lado de advogada que o defende (Foto: Ken Ritter/AP Photo)
Caso, após a aprovação, o plano funcione conforme o planejado, o sistema poderia oferecer um método alternativo de execução para outros Estados que fazem uso da pena de morte - e têm encontrado dificuldade para as adquirir drogas necessárias.
Por outro lado, o uso de drogas novas traz o risco de as mesmas não funcionarem como o planejado, além de provocar escassez no mercado para quem precisa das mesmas para medicação e alívio da dor.
Dozier, por sua vez, se prontificou a morrer e disse em audiência que não se importa caso sofra durante a execução.
Nenhuma das drogas - o sedativo diazepam, o analgésico fentanil e o paralisante cis-atracúrio (também conhecido pelo nome comercial Nimbex) - foram usadas em injeções letais antes.
A juíza de Nevada que postergou a execução de Dozier citou o receio de se mascarar a dor e o sofrimento com o uso de cis-atracúrio.
Jennifer Togliatti disse que o Estado poderia proceder com a execução, mas apenas usando diazepam e fentanil. Um advogado que representa a Procuradoria-Geral rejeitou a ideia e levou o caso à Suprema Corte de Nevada, contra a vontade de Dozier.
Overdoses e vômito
“É um experimento”, disse Deborah Denno, professora de direito e especialista em injeção letal da universidade Fordham, à AP. “Parece uma empreitada de alto risco. Mesmo pessoas treinadas não podem alegar saber o que vai acontecer.”
O fentanil tem sido uma das drogas mais citadas em debates sobre a crise de opioides nos EUA. Milhares de mortes por overdose no país têm sido creditadas a uma combinação de heroína com esse opioide sintético que chega, frequentemente, da China. Uma das vítimas mais famosas do fentanil foi o músico e astro pop Prince.
Usar diazepam - também conhecido como Valium - nas execuções, junto com o fentanil, poderia aumentar as chances de complicações, como vômito, algo comum no caso de overdose da última.
Também há o temor de que o uso em execuções façam com que fabricantes a retirar a versão legal da droga do mercado em protesto, cortando a oferta para outros propósitos legítimos.
Há um precedente, segundo a AP, quando o Missouri anunciou um plano para se tornar o primeiro Estado a executar um condenado usando propofol, o potente anestésico encontrado no corpo de Michael Jackson após sua morte, em 2009. Protestos da comunidade médica derrubaram a proposta.
Incluir um medicamento paralisante no coquetel pode inibir movimentos corporais e mascarar qualquer sofrimento pelo qual o condenado estiver passando, afirma o cirurgião e especialista em injeção letal, Jonathan Groner, à AP.
Assassinato e desmembramento
Scott Dozier foi condenado em 2007 por roubar, matar e desmembrar um homem de 22 anos em Las Vegas, após ser condenado por outra morte e desmembramento ocorrida perto de Phoenix, no Arizona.
Caso a execução aconteça conforme o planejado, o diazepam vai deixar Dozier inconsciente. Em seguida, será injetado o fentanil, que vai diminuir sua respiração o suficiente para matá-lo. O cis-atracúrio serviria para que o óbito seja uma certeza.
Por outro lado, segundo profissionais consultados pela AP, se algo de errado acontecer com as duas primeiras drogas e Dozier ainda estiver vivo quando a terceira for administrada, ele poderia permanecer consciente, incapaz de se mover, sofrendo de asfixia até morrer.
If it goes according to plan, the diazepam will put Dozier to sleep, followed by the fentanyl, which will depress his breathing enough to kill him. Then the cisatracurium is supposed to make death a certainty.