Com cabelo raspado, ex-ministro Geddel Vieira Lima chorou durante audiência de custódia em julho deste ano
O lobista Lúcio Funaro presta depoimento na tarde desta terça-feira (21) ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da Justiça Federal em Brasília. Menos de um mês após ter participado das audiências de ação penal da Operação Sépsis, na qual ele é réu, o ex-corretor de valores desta vez será ouvido na condição de testemunha de acusação contra o ex-ministro Geddel Vieira Lima .
Ex-articulador político do governo Temer, Geddel Vieira Lima é acusado nesta ação penal de tentativa de embaraço a investigações ao supostamente intimidar a esposa de Funaro, Raquel Pitta, visando evitar que o lobista firmasse um acordo de delação que pudesse comprometê-lo.
Cerco a Raquel Pitta e receio de Funaro
Raquel é um dos pivôs do caso e também será ouvida a partir das 14h desta terça-feira, assim como a irmã do lobista, Roberta Funaro.
De acordo com perícia realizada por investigadores da Polícia Federal no celular de Raquel, a esposa de Funaro recebeu 16 ligações de Geddel e efetuou uma única chamada ao ex-ministro em apenas 19 dias, no período entre 13 de maio e 1º de junho deste ano.
Em audiência de custódia realizada em julho deste ano com o próprio juiz Vallisney, o ex-ministro negou que telefonava com frequência para a esposa de Funaro e chegou a dizer que ligou por engano para Raquel Pitta ao tentar discar o número da pediatra de seu filho mais novo.
"Se olharem as ligações que eu fiz, vai ver que tem duas ou três ligações que nem se completam. Se você olhar o meu celular, vai ver que embaixo da pessoa que eu cadastrei posteriormente, tem o nome da pediatra do meu filho que ficou internado praticamente naquele dia. Quando eu vi que era outra ligação, imediatamente eu cancelei", explicou Geddel na ocasião. "A única ligação que foi feita foi o retorno da ligação da pessoa, que eu já conhecia, e só falei 'oi, tudo bom? parabéns' [...] Mas não há fala. Não há nada. Não houve mensagem escrita. Foi só o registro de uma ligação", completou.
Raquel Pitta disse aos investigadores que, quando Lúcio Funaro decidiu substituir o advogado Daniel Gerber pela advogada Vera Carla em sua defesa, o ex-ministro Geddel enviou mensagens a ela reclamando dessa manobra.
"Geddel mandou mensagem via WhatsApp dizendo, ao que se recorda: 'que porra é essa' e reclamou da troca de advogado de Lúcio, e disse que o advogado era bom e estaria fazendo tudo certinho, que estaria tudo certo para a saída dele, mas que com a entrada de Vera Carla tinha 'ficado ruim para o juiz'", aponta a transcrição do depoimento de Raquel. Essas mensagens, conforme relatou a esposa de Funaro, foram exibidas a Roberta Funaro durante um almoço.
Para os procuradores responsáveis pela denúncia contra o ex-ministro, as declarações de Funaro e Raquel indicam que Geddel "não só tentava monitorar o ânimo de Lúcio Funaro em fazer possível colaboração premiada como também alegava, perante ele e sua família, exercer (direta ou indiretamente) influência sobre decisões que interessariam à defesa" do lobista.
Funaro afirmou em depoimento que essas comunicações de Geddel com sua esposa o fizeram ter "receio sobre a segurança de sua esposa e filha, já que elas faziam deslocamentos para o presídio da Papuda [onde o lobista está preso] em estrada pouco movimentada".
Os processos de Geddel
Além dessa ação penal, Geddel Vieira Lima ainda responde a outro processo na Justiça Federal no DF, que investiga a origem dos R$ 51 milhões apreendidos em apartamento usado pelo ex-ministro em Salvador. Preso preventivamente desde esse episódio, Geddel também é acusado de integrar o chamado ' quadrilhão do PMDB na Câmara' . O Supremo Tribunal Federal (STF) ainda irá definir se essa investigação vai tramitar na própria Corte ou se será enviada ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba.
Leia também: Transferências de presos da Lava Jato custam quase R$ 500 mil à PF em um ano