Extratos bancários do ex-assessor parlamentar Job Ribeiro Brandão comprovam transferências de recursos para a família dos peemedebistas Geddel e Lúcio Vieira Lima. A documentação atinge mais um integrante da família, Afrísio Vieira Lima Filho, irmão de Geddel e Lúcio, que atualmente ocupa o cargo de diretor legislativo da Câmara dos Deputados. ÉPOCA teve acesso com exclusividade à documentação, entregue por Job aos investigadores da Lava Jato como parte da negociação de sua delação premiada.
Em depoimento revelado por ÉPOCA no último dia 17, Job detalhou diversas irregularidades relacionadas à família Vieira Lima, como a destruição de provas e o recebimento de dinheiro vivo da Odebrecht. Flagrado com suas impressões digitais em notas dos R$ 51 milhões do bunker ligado a Geddel, Job foi testemunha ocular de irregularidades praticadas pelo peemedebista e tem informações-chave sobre a origem de parte desse dinheiro. Job havia declarado aos investigadores que devolvia de 70% a 80% do seu salário de secretário parlamentar para a família Vieira Lima, principalmente em dinheiro vivo --um possível desvio de recursos públicos para o bolso dos peemedebistas. Em complemento às declarações, sua defesa apresentou extratos bancários dos últimos cinco anos que apontam a existência de ao menos cinco transferências bancárias diretas para a família e uma grande quantidade de saques em dinheiro --informações que corroboram as acusações.
Os recursos saíam diretamente da conta de Job no Banco do Brasil, na qual ele recebia mensalmente, por volta do dia 20, seu salário de secretário parlamentar. As datas das transferências reforçam a suspeita de que se tratava da devolução do salário: em geral ocorriam poucos dias depois do pagamento da remuneração da Câmara dos Deputados. Segundo Job, os repasses ocorriam por ordem da mãe deles, Marluce Vieira Lima, e eram abatidos dos valores que o assessor deveria devolver à família.
Procurado, o advogado de Job, Marcelo Ferreira, confirmou que apresentou uma petição aos investigadores complementando as declarações do ex-assessor e detalhando as transferências bancárias. Na petição, Job afirma que foi orientado por Lúcio Vieira Lima a abrir uma conta poupança em dezembro do ano passado, para a qual ele deveria transferir a parte correspondente à devolução do salário. Em vez dos sucessivos saques, os recursos ficariam guardados na poupança para quando os Vieira Lima precisassem, relatou.
O primeiro registro bancário encontrado pelo ex-assessor foi de 24 de abril de 2014: naquele dia, um extrato comprova que houve uma transferência no valor de R$ 2.500,00 para uma conta que pertence a Afrísio Filho, de acordo com a documentação. Exercendo atualmente a função de diretor legislativo da Câmara dos Deputados, Afrísio tem remuneração fixa de R$ 32,3 mil e mais R$ 9 mil de gratificação pelo cargo.
Outro registro indica uma transferência feita por Job, no valor de R$ 600,00, no dia 24 de março de 2015, a uma conta do patriarca da família, Afrísio Vieira Lima, que morreu em janeiro do ano passado. Em 24 de maio de 2016, Job repassou R$ 2.000 à conta de Afrísio Filho. Também há uma transferência de R$ 630,00 em 10 de abril de 2015 para a conta de uma filha de Afrísio. A sistemática continuou: em 24 de novembro do ano passado, mais uma transferência de R$ 700,00 para a conta de Afrísio Filho.
Os extratos bancários demonstram que o recebimento do salário se seguia a sucessivos saques em dinheiro vivo, necessários para que Job devolvesse a verba pública para a família Vieira Lima embolsar e guarda no closet da mãe, Marluce.
O ex-assessor também listou três transferências bancárias feitas para funcionários de Geddel a pedido deste. Segundo ele, em 25 de junho de 2010, transferiu R$ 511,00 para a conta de Cesar Lopes da Cunha, que era motorista de Geddel em Brasília. O repasse foi feito para cobrir a compra de remédios para uma filha do peemedebista. Outra transferência para o motorista, feita em 29 de agosto de 2011, no valor de R$ 984,67, serviu para cobrir o pagamento de uma conta para Geddel, segundo Job.
Nas negociações para sua delação, Job se comprometeu a buscar extratos bancários mais antigos, com o objetivo de localizar outros repasses diretos para os Vieira Lima. Na última sexta-feira (24), a procuradora-geral da República Raquel Dodge solicitou ao STF a liberdade provisória de Job, que atualmente se encontra em prisão domiciliar, sob o argumento de que ele está colaborando com as investigações e que a liberdade o permitirá levantar mais provas de irregularidades envolvendo os Vieira Lima.
Os fatos relatados por Job dificultam a situação do ex-ministro Geddel Vieira Lima, preso preventivamente após a descoberta do bunker de R$ 51 milhões. Acuado pelas acusações cada vez mais consistentes, o ex-ministro peemedebista terá como opção apenas um acordo de delação premiada caso queira deixar o cárcere. A possibilidade preocupa o Palácio do Planalto, já que Geddel era muito próximo do presidente Michel Temer e de outros caciques do PMDB.
Procurada, a defesa da família Vieira Lima afirmou que não comentaria porque não teve acesso à documentação. Anteriormente, a defesa já apontou que as declarações de Job são mentirosas e sustentou que a busca que apreendu os R$ 51 milhões foi ilegal porque teve origem em uma denúncia anônima.