Eric Zambon
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Os resultados ruins nos últimos dois anos fizeram com que, por comparação, o setor varejista tivesse seu melhor setembro, em aumento do volume de vendas, desde 2012. Em relação ao mesmo mês do ano passado, o crescimento foi de 6,4% e no comparativo com agosto de 2017, a variação foi de 0,5%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O DF, no entanto, destoa da média nacional e, nos últimos 12 meses, teve queda de 3,1%, o terceiro pior resultado do País, atrás apenas de Goiás (-7,2%) e Roraima (-4,5%). A explicação, segundo o Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista), é política.
Propaganda ruim
O presidente da entidade, Edson de Castro, atribuiu às ameaças de atrasos salariais dos servidores públicos o momento ruim de Brasília. “O governo sendo negativo, dizendo que ia faltar pagamento, fez com que o comércio parasse”, resumiu. Ele acredita que “o funcionalismo público movimenta a cidade” e, portanto, a publicidade negativa sobre os salários inibiu as pessoas de fazerem compras.
Apesar disso, ele não esmorece e acredita em uma retomada para a cidade. A projeção para o fim do ano é que os setores mais fortes nessa época, como perfumaria e confecções, cresça entre 5% e 6% em comparação com as festas de 2016.
“Estamos com juros mais baixos (em referência à queda da Taxa Selic) e no Dia da Criança já houve uma melhora”, explica Castro. “Agora há uma boa previsão para o Natal, que deve ser impulsionado epla Black Friday na próxima semana”, complementa.
Ele cita ainda a liberação do saldo inativo do FGTS e a liberação de créditos dos bancos como fatores de otimismo para o empresário a partir do fim de novembro. Isso deve dar mais confiança ao consumidor para aproveitar promoções de fim de ano e também para evitar filas em estabelecimentos.
“Com juros baixo e cartões parcelando em até dez vezes, além de o governo parando de falar que vai faltar dinheiro, existe boa expectativa”, projeta. “A gente vê pelos empresários, pelos estoques, pelas lojas. As lojas que não fecharam esse ano estão estocadas esperando clientes”, anuncia.
Móveis puxam as vendas
Conforme a pesquisa do IBGE, os segmentos que mais impulsionaram o varejo nacional em 2017 foram o de móveis e eletrodomésticos, com crescimento de 15,3% no terceiro trimestre, e o de tecidos e calçados, com aumento nas vendas de 12,1% no mesmo período.
No comércio ampliado, os materiais de construção e os veículos, com crescimento de 13,2% e 10,4%, respectivamente, tiveram um bom terceiro trimestre, após seis meses mornos. No caso dos automóveis, os dois primeiros trimestres apresentaram recessão acima de 8%, um dos piores resultados desde o início da crise, em 2015.
O segmento de livros, jornais e revistas teve o pior resultado do último trimestre, com queda de 3,5% nas vendas , seguida pelos combustíveis e lubrificantes, com -2,7%.
No acumulado de todos os setores ao longo de 2017, o saldo positivo para o comércio varejista é de 4%, enquanto para o comércio varejista ampliado é de 8,2%. Os resultados acontecem após um 2015 com perdas de 4,3% em vendas e um 2016 com perdas de 6,2%, a pior depressão para o setor desde o triênio 2001 a 2003, quando registrou-se – 6%.
Ponto de vista
A gerente da pesquisa no IBGE, Isabella Nunes, acha positivos os sinais de retomada do comércio, mas salienta que é cedo para comemorar. “Temos sempre que fazer uma consideração: qualquer comparação com 2016 envolve uma base baixa, pois o varejo fechou com números negativos”, faz a ressalva. Para ela, a retomada das vendas em hipermercados tem a ver com a diminuição da taxa de desemprego e com a liberação do FGTS inativo, enquanto o crescimento nos materiais de construção e automóveis é explicado pela demanda reprimida acumulada nos últimos dois anos. “O maior número de pessoas ocupadas se converte em renda
circulante maior, mas se isso tem um fôlego para se manter é outra história”, alerta a pesquisadora do IBGE.
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