Marcelo Campos (segundo da dir. para a esq.) junto com Ricardo Teixeira e integrantes da Traffic
Reprodução/Record TV
Depois de uma investigação interna profunda, que consumiu mais de dois anos de trabalho árduo, o grupo J&F tomou de assalto, ontem, o noticiário dos principais telejornais do País, para esclarecer, definitivamente, se alguma dúvida ainda persistisse, que Joesley e Wesley Batista nunca participaram de qualquer negociata para comprar a quase totalidade do mundo político brasileiro. E também em apuração própria, levada a cabo sob um rigor extremado, os irmãos garantiram que nunca contrataram Roberto Carlos para propagandear a excelência da carne que vendem.
O que a Globo fez ontem é muito parecido com isso.
Com a indignação pulsando a cada palavra e o olhar de quem voi vítima da mais vil de todas as vilanias, seus jornalistas leram uma nota da empresa negando, veementemente, o pagamento de propina a qualquer dirigente esportivo.
Explicando melhor para quem não sabe o que se passa : o empresário argentino Alejandro Buzarco, até ontem todo-poderoso dirigente da companhia de marketing Torneos y Competencias denunciou, em Nova Iorque, no julgamento que apura a corrupção na Fifa, que a TV Globo e outros grupos de mídia da América Latina pagaram suborno para ter direito exclusivo sobre transmissão de jogos de futebol, e a emissora, no Brasil, simplesmente, solta uma comunicado atestando que "em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos".
Então, é assim: a Globo investiga a própria Globo, e conclui que é inocente.
Pode até ser, mas é como se Eduardo Cunha fosse investigar os seus próprios atos.
Mesmo que não tenha pago propina, até a grama velha de guerra do estádio do Olaria, no Rio de Janeiro, sabe que a Globo foi a parceira fundamental para que a CBF transformasse o futebol brasileiro no que ele é hoje. Durante décadas fez o que quis com o calendário, mudou o hábito de dezenas de milhões de torcedores, sempre em busca dos seus interesses.
Enquanto Ricardo Teixeira esteve no topo da cadeia alimentar que devastou o futebol brasileiro, sempre foi paparicado pela Globo. Mesmo com todas as denúncias de corrupção contra ele. Não se ouvia uma crítica mais forte de Galvão Bueno. Nem um muxoxo sequer.
Teixeira e Marcelo Campos Pinto, o homem encarregado pela Globo de negociar os direitos esportivos, eram a mesma pessoa em corpos separados. Aqui, um lembrete: Marcelo foi escanteado da emissora no exato momento em que o FBI começou a invesigar a podridão da Fifa. Mas uma investigação interna da emissora deverá esclarecer, com certeza, a coincidência.
Quando Teixeira ruiu, a Globo continuou fazendo da CBF o seu parque de diversões. José Maria Marin e Marco Polo Del Nero corruptos eram, e corruptos continuaram, como as investigações do FBI mostraram.
A nota da Globo diz que ela não tem nada a ver com isso: "Sobre depoimento ocorrido em Nova York, no julgamento do caso Fifa pela Justiça dos Estados Unidos, o Grupo Globo afirma veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina. Esclarece que após mais de dois anos de investigação não é parte nos processos que correm na justiça americana. Em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos. Por outro lado, o Grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido. Para a Globo, isso é uma questão de honra. Não seria diferente, mas é fundamental garantir aos leitores, ouvintes e espectadores do Grupo Globo de que o noticiário a respeito será divulgado com a transparência que o jornalismo exige.”
A parte bondosa que habita minha alma incrédula pode até acreditar piamente nisso.
Aconteceu o mesmo quando Geddel negou ser dono do dinheiro sujo, os R$ 51 milhões encontrados em seu apartamento.
Com os diamantes de Adriana Ancelmo foi a mesma coisa.
E com Aécio então? É um querido.
Eu só acho que a Justiça americana não tem lá a alma tão bondosa, mas é só um palpite.