Entre os otimistas e pessimistas com o futuro próximo do Brasil há os “positivos” com a dinâmica atual da economia e de como ela deve se comportar no ano que vem. É o caso do economista Armando Castellar, do IBRE/FGV. Para ele não cabe muito falar em otimismo porque o “cenário é mediano”, mas também não dá para negar a melhora da atividade e, especialmente, a força crescente do consumo das famílias – que irá puxar o resto da economia para cima.
“É positivo se for comparado ao que vivemos nos últimos anos. O PIB agora responde mais rápido, a inflação está baixa, as contas externas equilibradas, o desemprego está caindo, os juros também. Então, é bastante positivo e o consumo das famílias que vai puxar o resto. Vamos viver um cenário de ‘feel good’, com as pessoas mais felizes porque estão comprando, reconquistando o que perderam com a crise”, disse o economista do IBRE em entrevista exclusiva ao Blog.
O consumo das famílias depende, fundamentalmente, de três coisas: emprego, renda e grau de endividamento/inadimplência que vai determinar apetite para crédito. O primeiro e o segundo estão subindo, e o terceiro está em queda. Os últimos dados mostram que a inadimplência caiu 4,5% até outubro, no acumulado em 12 meses. Este fator tende a melhorar com a redução da taxa de juros básica, mesmo que o repasse para o crédito ao consumo seja mais demorado.
“Essa recuperação vai acontecer com mais força para as famílias do que para as empresas que sofreram mais com a inadimplência durante a crise. Em compensação, a queda dos juros vai ajudar primeiro as empresas porque os financiamentos são indexados ao CDI, que é próximo da Selic. Elas também têm capacidade ociosa, ou seja, não precisam investir tão cedo”, aponta Castelar.
Ressalvas
O cenário positivo de Castelar tem limite, ou melhor, limites. Para falar da atividade econômica, o primeiro deles é o investimento. Este cai há anos, começou a recuar antes de a recessão chegar com força, como acontece nos ciclos econômicos. Já começou uma retomada no setor de máquinas e equipamentos, tanto na fabricação quanto na importação deles, o que é relevante. Mas a capacidade de produção da economia, ou seja, o chamado PIB Potencial, responde com mais intensidade ao investimento em construção civil e em infraestrutura. Este vai levar mais tempo.
“No setor Imobiliário ainda há grandes estoques e ainda precisa conseguir se livrar do disso para começar a produzir em um ritmo mais forte. Já temos investimento em máquinas e equipamentos, mas a construção civil ainda está baixo. No caso da infraestrutura, o investimento publico está baixíssimo e temos muitas incertezas na política com as eleições do ano que vem e o candidato que pode sair na frente. Nós só teremos uma visão melhor depois disso e a tendência para o investimento em infraestrutura é aguardar estas definições”, pondera Armando Castelar.
Não pode faltar na lista das ressalvas o quadro fiscal, das contas públicas. O país continua pendurado na reforma da previdência e dos outros ajustes pendentes no Congresso Nacional. Hoje não dá para dizer o que será ou não aprovado e, mais do que isto, o que vai fazer quem ganhar as eleições, que projetos terá para o país e para o ajuste fiscal.
“A recuperação da economia será boa no que vem e pode acelerar 2019. Depende do presidente que será eleito e o que ele vai fazer, por exemplo, com a receita tributária. Se ela estiver crescendo (em resposta à retomada do PIB), ele pode pensar: ‘quem sabe consigo me virar sem grandes mudanças’. E aí? Como a coisa vai ser equacionada?”, pergunta o economista do IBRE.
Boa pergunta, sem resposta. Assim como para muitas questões relacionadas à política, ao quadro das eleições e, principalmente, à agenda de reformas que será encampada e assumida pelos candidatos. Até lá, o Brasil dará uma folga a quem sofreu demais com a recessão de quase três anos. Com emprego voltando, renda protegida pela baixa inflação e crédito mais barato pela queda dos juros, os brasileiros devem sair às compras.
“As pessoas vão voltar a comprar coisas que pararam de comprar desde 2014. E isto traz uma sensação de felicidade, de reconquista. Se a retomada do PIB estivesse acontecendo pelas exportações, ninguém sentiria satisfação, porque vender lá para fora não gera bem estar aqui. O que dá satisfação é comprar carro novo, trocar a geladeira, fazer viagens. O problema é que depois da curva, a coisa vai complicar bem. Mas até lá, o brasileiro vai se sentir bem”, avalia Armando Castelar.